Ouse. Ouse tudo.

"Pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza senão não se faz um samba não"

terça-feira, novembro 28, 2006

Inútil

Eu comecei, num domingo, a tratar sobre coisas que nao interessam mais. Falta de produçao, inutilidade, inércia... fazem surgir o lado mais desinteressante das pessoas e, bem, eu nao preciso registrar isso ou fazer-me desinteressante ao meus proprios olhos e vossos, desde já.

Eu nao sei o que, publicando, tornaria isso aqui menos inútil. Nao posso dar notícias sobre paz de espírito, sentimentos concretos de algo real que seja bom, acontecimentos dignos de um quadro ou uma canção que me soou alegre. Nao pq isso aqui é cru. E eu quis fazer cru pq quis fazer real. Chega de ficções ou máscaras inúteis. Chega de coisas que aparecem como nao são. Tem que ser cru pq nao precisa fazer-se ou desenhar-se desleal consigo mesmo. Nao precisa brincar de divertir, profetizar maravilhas, mensagear esperanças, transforma-se em reboco de algo interminado e, definitivamente, sem beleza. Sendo um rascunho será um rascunho. Só.

Sim, pq essa noite nao tem beleza. E nem esses dias que estao passando até aqui. Não vislumbra-se cores fortes que gritam pra ser vistas ou cores suaves que traçam uma delicadeza de viver que nao existe. Nao existe delicadeza, nem beleza. Nao existe um belo quadro pra comentar ou olhos ansiosos em enxergar maravilhas numa pintura surrealista. Van Gogh que me perdoe mas eu acho inútil desenhar relógios como folhas caídas. E se é nosso tempo pq nao mostrar-se firme? Nosso tempo sao folhas que caem? E o que representa essa árvore nua? Sem folhas, sem tempo? Morte, nós?
Van Gogh que me perdoe, mas eu nao vou pensar sobre isso. Pq eu nao encontrarei um belo fim para o seu quadro. Eu, simplesmente, nao vislumbro outros fins, senao os tristes ou crus, para estes. A morte, a infelicidade, a angústia de nao ter tido tempo suficiente, a deficiência com que vivemos...será que alguem pintaria isso? Um gênio, entao?! Em nao se falando de gênios, esse é meu quadro. E essa é tambem, a mais inútil e ignorante crítica de arte que alguem jah escutou. E é de Van Gogh esse quadro sobre o tempo ? Nao Dali, nao confundirei sua arte. Por respeito, considero-a como um quadro de um louco, tratando-se como louco o nome de Van Gogh ou o meu.

Eu tentei me desnudar e resolvi falar de arte. Estranha forma de esconder o que nao se pinta. Estranha forma de incubar o que nao quer fazer nascer. Estranha maneira de lidar com os sentimentos. Mas simples, esvai-se. E por si só. E deixa ir pq, ficar... ficar nao é nada. Habitar o mesmo canto, permanecer... isso pode valer pra aqueles que nao sentem-se incomodados com seus próprios lugares. Mas quem nao cabe em si, quem nao se acostuma a sentar-se onde deveria, quem nao recebe, de bom grado, o que, com um sorriso, deveria agradecer, esse, essa, tem que ir. E pra onde? A que distancia? Com que constancia voltaria ou iria de novo? Sabe-se lá o que reserva a dúvida aos que nao sabem de si e nem se interessam (!).

Nao tinha pq encontrar beleza nesse texto. Não há beleza pra traduzir dentro dele. Não há cura que pregue aos "espíritos", pq nao acredita-se neles e muito menos no que a "cura" reservaria-lhes. É uma desesperança, coitada, sobre algo, algo que nao será. São linhas em que trata-se do nada, por mais imbecil que isso possa ser. Nega-se até, querendo acreditar. Mas, neste fim, entao, nao acredita...

Nao ousarei desenhar um fim em que, obrigar-me-ia a acreditar. Traço, apenas, suas linhas tortas, descongruentes, sobre o que pode até terminar bem, a despeito de todo o resto e de todo o caminho que se percorreru incertamente. Mas nao vou desenhar isso como se bonito fosse. Porque nao é. É metade do que seria visto quando se tirasse todas as cores vivas desse belo quadro que um artista talentoso conseguiu transformar em arte. Na verdade, nem chega a ser metade. Um canto, beira, que, corajoso, mostrou-se. Apenas uma parte do que se despe com coragem e se afirma desnudo de fantasias ou boas tintas.

E aqui termina essa produçao sobre o que, passaria bem, sem ser dito.
E me (nos) faria menos mal.

Paula M.